Balé natural

terça-feira, 27 de julho de 2010


Era um dia chuvoso. Mariana abriu seus olhos lentamente, e por um segundo pensou que ainda era noite, pois não foi invadida por uma imensidão de raios de sol. Parece que finalmente o inverno havia chegado.
Um sorriso abriu-se em seu rosto ao ver as gotículas que deslizavam pelo vidro da janela. Elas escorriam em ondas, parecendo dançar ao som da melodia formada pelo temporal. O cair dos pingos no chão lembra as baladas tristes, que lembram os amores perdidos. Os raios e trovões introduzem um rock. Os sapos coachando, os pássaros emitindo seu cantar triste, visto que a chuva os impede de voar livremente. Mas em meio a tudo isso uma grande alegria, como só as músicas tristes podem trazer. Através de sua tristeza, elas reproduzem os sentimentos mais profundos da alma humana, aliviando ou sublimando cada ferida.
Diferentemente da maioria das outras meninas, Mariana não gostava do verão. Como gostar, se não tinha aquele friozinho gostoso, ideal para ler os livros de que tanto gostava? E no mais, ela se sentia feia, desengonçada. Não suportava a idéia de usar um maiô em público - maiô sim, porque biquíni, nem se fala! É fato que ela era gordinha, não tinha o corpo estampado nas capas de revista. Mas também não era  feia: é uma das meninas mais lindas que eu já conheci.
Não pelo clichê da beleza interior. Mas pela sua beleza completa, inclusive exterior. Porque ela estava apenas crescendo. E crescer exige paciência... E isso ela sabia de sobr. Mas sabia principalmente que era importante cultivar o que ela sabia, o que ela era, sua essência. E esperar que a beleza da mulher surgisse. Por enquanto, ela preferia viver a menina que ainda era. E só por isso ela era capaz de perceber e admirar o balé formado pelas gotas de chuva.

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